sábado, 17 de janeiro de 2009

Rua Adolfo Casais Monteiro

"O espírito da Rua Miguel Bombarda está a alastrar para uma das perpendiculares.
A loja/atelier de Nuno Gama é a nova "estrela" da Rua Adolfo Casais Monteiro, onde têm nascido novos espaços de comércio. Mas nesta viagem também olhámos para o passado.

Numa cidade, os efeitos de contágio são frequentes. De forma virtuosa ou viciosa, hábitos, actividades e camadas sociais vão ocupando certas zonas do espaço urbano, espalhando-se como um vírus. É isto que está a acontecer na Rua Adolfo Casais Monteiro: a proximidade com as galerias de arte e as lojas de comércio alternativo da Rua Miguel Bombarda, que a cruza, tem alterado a face da artéria. Curiosamente, o escritor portuense Adolfo Casais Monteiro (1908-1972) nasceu precisamente em Miguel Bombarda, numa casa com um jardim ligado ao arruamento que viria a ter o seu nome (era então a Rua do Pombal).
Nos últimos anos, esta rua parece ter recuperado alguns habitantes, especialmente jovens. Uma das pessoas que nos ajudaram a perceber esta evolução reside aqui há 37 anos, e sempre viveu nas imediações. Adosinda de Sousa é uma das proprietárias da Da Vinci, uma loja de molduras que ocupa o espaço do antigo bar Aria, e onde pinturas de diferentes estilos ocupam agora as paredes. Hoje, com 59 anos, confirma que a maior parte dos seus vizinhos são jovens, mas lembra-se da rua, na sua infância, como uma zona habitacional de "gente humilde". Mas a recordação mais forte é da Padaria Independente, cujo grande letreiro em azulejo ainda se mantém. "O pão era uma delícia, dos melhores do Porto. Por alturas do São João, a vizinhança ia até lá com a sua assadeira em barro, para meter o cabrito com batata no forno. Parece que ainda sinto o cheiro", descreve.Voltemos ao presente pela porta da antiga Padaria Independente, que é agora um dos pólos ocupados pela Galeria Fernando Santos, uma das pioneiras na Miguel Bombarda. Mesmo ao lado, foi inaugurada em Setembro a loja e atelier do estilista Nuno Gama, que anteriormente estava estabelecido na Foz. A mudança trouxe-lhe mais espaço, mas também lhe permitiu integrar as vertentes criativa e comercial num ambiente "mais intimista", desenhado pelo arquitecto Rodrigo Patrício, explicou o criador ao PÚBLICO. O estabelecimento foi notícia, em Dezembro, por ter sido alvo de um assalto que levou cerca de 200 peças, incluindo a colecção Outono/Inverno 2008. Mais de um mês depois, a loja está recomposta. Uns passos ao lado, na esquina com a Rua Miguel Bombarda, vai nascer a nova loja/atelier do decorador Miguel Costa Cabral.
O único restaurante da rua, inaugurado em 2006, é o Artemísia (um género de plantas a que pertence o absinto ou o estragão), que também funciona como café e bar. O interior, concebido pela arquitecta Ana Costa, denuncia desde logo que se trata de um local requintado: o espaço tem uma forma irregular, e é dominado por tons castanhos. Há sofás e mesas espaçosas, que lhe conferem um ambiente caseiro. Numa das paredes, alguns nichos albergam obras cedidas pela loja de artesanato urbano Águas Furtadas, que se situa no Centro Comercial Bombarda. Uma refeição média ronda os 30 euros, mas o almoço pode ser bem mais económico, já que há três menus executivo, entre os 6,5 e os 13,5 euros. As ervas aromáticas e as especiarias desempenham um papel fundamental na oferta da casa, que tem uma carta variada, com carne, peixe, pratos vegetarianos, massas e risottos. Provámos o tiramisu e podemos recomendá-lo vivamente para a sobremesa.
Música alternativa
De barriga cheia, podemos seguir para a zona da artéria que fica mais perto da Rua D. Manuel II. É aqui, no número 71, que está a nossa sugestão para tomar um copo: o Lobby. Trata-se de um café-bar acolhedor, que até há algumas semanas estava aberto durante a tarde, mas que restringiu o seu horário de funcionamento ao período 21h-2h. A música tem um cariz consideravelmente alternativo, e nas traseiras há um belo pátio, aberto quando as condições climatéricas assim o permitem. No número 63 fica um dos estabelecimentos que nos fazem perceber porque é que Nuno Gama diz que quem se desloca a esta rua procura "alternativas ao déjà vu da cidade": o hair designer Freaks é um dos locais mais famosos do Porto para quem pretende mudar de visual. "A nossa filosofia é fazer um corte bom, que dure, que possa ser mantido em casa. Nós não alteramos a textura dos cabelos", explica o proprietário, Francisco Carvalho. No mesmo edifício, está a loja da marca afilhadedeus, um projecto de vestuário e acessórios fundado por dois artistas plásticos portugueses com formação em pintura, Catarina Enes e Bruno Alves. Todas as peças são únicas ou séries limitadas.
A última sugestão que deixamos é a loja da Cruz Vermelha Portuguesa, no número 37. Trata-se de um bom local para encontrar pechinchas, já que a maioria dos produtos (roupa, sapatos, brinquedos ou loiças) é em segunda-mão. Para além disso, qualquer compra é uma forma de ajudar a instituição humanitária."
Artigo de João Pedro Barros, in Público

1 comentário:

Daniela Barbosa disse...

Olha lá: tens um fascinio especial pela descrição e história das ruas do Porto?!?!?!
(Como te entendo!)