segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Bisturi - nova companhia de teatro no Porto

"O Porto viu nascer mais um grupo de teatro. Saído das fileiras da Academia Contemporânea do Espectáculo, o Bisturi integra dez elementos cheios de vontade de fazer coisas. A estreia teve a chancela da Palmilha Dentada.

"Espera aí que eu quero falar contigo" foi o espectáculo com que sete elementos do Bisturi fizeram a sua prova de aptidão profissional. Apresentaram-no no Teatro do Bolhão, durante uma curta carreira, e acreditam ter um núcleo sólido. "A opção foi esta: em vez de sermos free-lancers e de andarmos de casting em casting, decidimos juntar-nos e formar um grupo em que todos tivessem oportunidade de trabalhar", diz Cátia Guedes, de 21 anos.

Ao lado de Cátia, estão Inah Santos, Pedro Roquette, Tiago Araújo, Catarina Campos Costa, Joana Neto Brás e André Loubet. A eles se juntam ainda Ana de Jesus, Carlos Gonçalves e Rita Lagarto, os três que fizeram a prova de aptidão com outra peça, pela mesma altura, mas no Palácio Conde do Bolhão. São estes os mosqueteiros do Bisturi. As idades vão dos 17 aos 24. Os sonhos, até onde calhar. Sobre o nome do grupo, cabe a Tiago dar a explicação: "Não sei se significa bem um corte. É mais uma abertura para uma renovação. Não queremos criar uma ruptura, mas criar uma renovação. Somos pessoas muito jovens e o que pretendemos é dar uma onda de jovialidade e frescura ao teatro da cidade". Diz ainda que "é raro haver jovens a dar a cara", para logo acrescentar: "Nós demos esse passo".

Este núcleo de jovens actores funciona como uma base, a partir da qual se traçam dois objectivos. "Continuar com coisas individuais e também reunir o grupo para partilhar coisas que levem a bons espectáculos ou, pelo menos, a espectáculos que sejam nossos", acrescenta Tiago. "Estamos a ver isto também como uma forma de lutar por aquilo com que nos identificamos", atalha Inah.

Em suma, cada um pretende fazer uma especificação e depois levá-la para o colectivo. Ideias não faltam: clown, marionetas, dança contemporânea, trabalho de voz, música e teatro físico são algumas das áreas que querem explorar individualmente. "Quanto mais rico for o leque, mais interessante pode ser o cruzamento", afirma Catarina, que não esconde o desejo de continuar a sua formação em Paris. Tal como André, para quem o Bisturi nasceu como forma de "conciliar vontades com aquilo que a cidade precisa".

Da parte da escola que os formou, os elementos do grupo contam com mais do que uma palavra de encorajamento. "É importante que percebam que podemos apoiá-los, cedendo-lhes, por exemplo, espaços para ensaios, para representar e equipamentos a custos e condições muito especiais", garante Pedro Aparício, que assume, com António Capelo, a direcção da Academia Contemporânea do Espectáculo. Nos últimos anos, dali saíram quatro companhias que se mantêm no activo: As Boas Raparigas, Teatro Bruto, Teatro Plástico e, mais recentemente, Teatro da Didascália. Agora, aparece o Bisturi. Sobre o nascimento do novo grupo, Pedro Aparício afirma: "É muito corajoso pretenderem lançar um projecto num contexto profundamente precário". E o que pode a academia fazer? "Ajudá-los a ter pernas para andar", conclui."


Artigo de Isabel Peixoto in JN

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