domingo, 12 de outubro de 2008

Cinemateca no Porto

"Cinema independente ganha espaço de exibição no renovado Cine-Teatro Constantino Nery, em Matosinhos. Programação será coordenada por um dos organizadores do Indie Lisboa.

O ministro da Cultura, José António Pinto Ribeiro, reafirmou a intenção de abrir um espaço de exibição e exposição de cinema na cidade do Porto, adiantando que as obras necessárias à concretização deste projecto deverão avançar durante o ano de 2009. "Há projecto, há dinheiro alocado, agora é fazer as obras", disse o governante, na semana passada, à margem da cerimónia que assinalou o 50º aniversário da Cinemateca Portuguesa.
De acordo com fonte do gabinete de imprensa do ministério, a declaração de José António Pinto Ribeiro limitou-se a confirmar aquilo que já havia dito em Julho último, no Museu de Serralves, quando anunciou a criação de uma cinemateca no Porto. De resto, a mesma fonte garantiu que não está ainda decidido onde ficará instalado o equipamento, que não se limitará a ser um mero pólo da Cinemateca Portuguesa, devendo dispor de uma direcção própria. Ao que o PÚBLICO apurou, porém, a Casa das Artes, projectada por Eduardo Souto Moura e encerrada há vários anos, continua a ser a hipótese mais forte para a instalação do pólo nortenho da Cinemateca, tendo a cabine de projecção sido recentemente objecto de uma pequena intervenção para esse fim.
A criação de uma cinemateca no Porto tem vindo a ser reivindicada por várias personalidades da cidade, tendo um abaixo-assinado posto a circular para o efeito recolhido mais de quatro mil assinaturas. Em Serralves, aliás, o ministro chegou a prometer a criação da Cinemateca até ao final da actual legislatura, mas nem o gabinete de imprensa do Ministério da Cultura nem o número dois da Cinemateca, Pedro Mexia, confirmam agora essa possibilidade.
Enquanto o anunciado equipamento não se concretiza, o Grande Porto vai passar a dispor, já em Novembro, de um novo espaço de exibição de cinema independente: o renovado Cine-Teatro Constantino Nery, em Matosinhos, estreará um filme por semana e, segundo a directora, Luísa Pinto, terá a programação de cinema coordenada por Nuno Sena, um dos organizadores do festival IndieLisboa.
"Sou muito realista e sei que é um risco grande, que há pouco público. Mas vamos apostar em fidelizar e educar o público para um tipo de cinema não comercial e acredito que seja possível fazer renascer o ambiente extraordinário que me recordo de ver nos tempos áureos do Cineclube do Porto", disse Luísa Pinto ao PÚBLICO. "Se, ao fim de um ano, tiver 80 pessoas na sala, dou-me por feliz", acrescentou esta responsável.
"Essas coisas são muito voláteis", concorda António Costa, responsável pelos cinemas Medeia no Shopping Cidade do Porto e no Teatro do Campo Alegre, segundo o qual o último filme de Eric Rohmer, Os Amores de Astrea e de Celadon, precisou de cinco semanas para atingir os mil espectadores. As contas são fáceis de fazer: com quatro sessões diárias, o filme terá registado uma média de... sete espectadores por sessão.

Pouca divulgação

Trata-se, obviamente, de um exemplo extremo e que António Costa justifica com a pouca divulgação nos órgãos de comunicação social. "Público há, mas é preciso chegar a ele", diz, acrescentando que a solução tem passado pela tentativa de divulgação através de newsletters via correio electrónico ou de protocolos celebrados com universidades. "Mas a ideia que tenho, das sessões a que vou, por exemplo em Serralves, é que aparecem sempre as mesmas pessoas. O abaixo-assinado teve 4600 assinaturas, mas isso não quer dizer que essas pessoas vão sempre ao cinema", diz António Costa.
As sessões de cinema alternativo em Serralves são, ainda assim, um caso que suscita algum optimismo. O recente ciclo dedicado aos filmes de Manoel de Oliveira registou uma média de cerca de 90 espectadores por sessão: Aniki Bobó foi visto, num domingo de manhã, por 231 pessoas, embora um clássico como O Homem da Câmara de Filmar se tenha ficado pelos 25 espectadores.

Os números de Lisboa

É bom? É mau? É, pelo menos, difícil dizer se o interesse suscitado pelos filmes em Serralves corresponde a um interesse real do público por este género de cinema mais alternativo. Mas, comparando com os números que João Bénard da Costa divulgou recentemente sobre a Cinemateca Portuguesa, o panorama não parece ser totalmente desanimador: segundo um artigo de opinião que o director da Cinemateca publicou em Junho último, aquele equipamento tem, em média, cerca de 60 mil espectadores por ano; se fizermos as contas a cinco sessões diárias, chega-se a uma média de pouco mais de 30 espectadores por sessão.
Há outra boa notícia para os amantes do cinema alternativo do Grande Porto. Os cinemas do Shopping Cidade do Porto vão, para já, continuar abertos. Segundo António Costa, o espectro do seu encerramento, dado como certo há um ano, está agora afastado, assegurando-se a programação num dos poucos espaços da cidade onde ainda é possível ver filmes de autor, cinema europeu e alternativo.
O Cine-Teatro Constantino Nery é inaugurado no próximo dia 15 de Novembro e já tem programação de cinema até Dezembro de 2009. Do conjunto de ciclos previstos conta-se, em Maio, uma extensão do festival IndieLisboa, mas também programas temáticos ligados à quadra festiva (Natal, Carnaval, etc.) e a outros eventos culturais de Matosinhos, como os encontros Literatura em Viagem. Haverá ainda, entre outros, ciclos dedicados às cidades, às migrações e à música. Até Dezembro, o renovado espaço contará apenas com projecção digital, mas, a partir de Janeiro, passará também a dispor de equipamento para projecção de película."

in Público

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